Último dia para inscrição no Festival do Filme Etnográfico

Estão abertas as inscrições de documentários, vídeos experimentais e de animação produzidos a partir de 2006 para o I Festival do Filme Etnográfico do Recife, promovido pelos programas de pós-graduação em Antropologia e em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O evento será realizado de 1 a 4 de junho de 2009 no espaço do Cinema da Fundação e premiará produções cinematográficas/vídeográficas, nacionais e internacionais, que abordem questões de interesse antropológico. A mostra competitiva ocorrerá às 19h durante todos os dias do festival. Outras informações: http://www.ufpe.br/recife-etnodoc/ .

Prorrogadas inscrições!

O I Concurso Latinoamericano de Reportagem está com inscriões abertas até o dia 30 de maio.
O concurso é mais uma voz que se ergue para “quebrar o silêncio” imposto à América Latina pela indústria jornalística. Se você compartilha do ideal que a América Latina não pode ficar condenada à solidão, inscreva-se neste concurso e envie uma reportagem com o tema “América Latina, aqui estamos!”.
Leia o regulamento e participe!
Premiação

O primeiro lugar da categoria estudante receberá uma Enciclopédia Latinoamericana, cortesia da editoria Boitempo. Clique aqui e conheça o prêmio do primeiro lugar.
O objetivo é a produção de reportagem a ser publicada no site Latinoamericano que retrate um dos seguintes aspectos
Unidade da América Latina popular
Divulgação da cultura popular da América Latina
Divulgação de lutas sociais da América Latina

1º Concurso de Arte Consciente

Estão abertas as inscrições para o 1º Concurso de Arte Consciente. Para participar, basta confeccionar manualmente um objeto de decoração com material reciclado. As obras devem ser inspiradas em músicas brasileiras ou sons que façam parte da paisagem sonora do Brasil. Os três primeiros lugares serão conhecidos na Mega Artesanal 2009 que acontece de 30 de junho a 5 de julho, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo (SP).
O 1º Concurso de Arte Consciente é composto por duas fases: na primeira, as obras serão avaliadas pela comissão julgadora, que irá selecionar trinta peças; na segunda, a comissão vai eleger as três melhores, que serão expostas na Mega Artesanal 2009. Originalidade, compatibilidade com a música, inovação, grau de dificuldade, criatividade e acabamento serão alguns dos aspectos analisados. Serão premiados os três primeiros lugares, sendo que o primeiro receberá, além do troféu, uma viagem para João Pessoa (PB). Cada participante poderá concorrer com apenas um trabalho. O concurso é gratuito e as obras devem ser enviadas entre os dias 20 e 25 de junho. Informações sobre inscrições e regulamento estão em www.megaartesanal.com.br.

Orlando Senna convoca manifesto público de apoio ao projeto inicial da TV Brasil

Segue e-mail de Orlando Senna que circulou nas listas de cinema, onde ele se posiciona com relação à saída de Leopoldo Nunes da TV Brasil e propõe à classe audiovisualista, de comunicadores públicos e produtores independentes que manifestem sua indignação contra o que foi transformado o projeto inicial da Tv Brasil. Acredito que cabe um manifesto, uma carta aberta, uma mobilização nacional do setor.

Eis a carta:

Embora todo mundo já tenha percebido que o projeto da TV Brasil está indo pro brejo, existe uma certa superficialidade na análise da questão por parte do cinema independente, dos cinestas e produtores progressistas, enfim, dos que lutaram pela criação e implantação de uma TV pública no Brasil (indo bem além das TVs educativas e muito além das TVs educativas transformadas em pseudo TVs públicas). E, consequentemente, no vislumbre de uma estratégia de salvação do projeto.

Tomo como exemplo uma afirmação esperançosa de Joel Zito na lista, hoje: ³mas ainda restam bons quadros lá dentro². Não se trata disto, esteja Joel Zito se referindo a quadros técnicos ou políticos. O buraco é bem mais em
cima e a entrevista de Leopoldo indica onde está este buraco, o que e quem estão dentro dele. Se existe algum caminho de salvação ele passa por outra frase de Joel Zito na mesma mensagem: ³espero que esta tragédia ainda ajude em uma articulação renovadora². Só que essa articulação e uma ação que vise resultados concretos terá de enfrentar-se a uma situação real e exigir mudanças radicais na TV Brasil, uma refundação (sei que estou me repetindo,
mas quem não é escutado tende a se repetir).

A EBC, empresa que opera a TV Brasil, não é uma empresa apta a operar essa atividade, seu arcabouço jurídico/estatal resulta em vagarosidade, engessamento e confusão gerencial, é mais fechada que as outras 116 empresas do estado existentes no país, a única que põe o poder de decisão nas mãos de um só pessoa. À raiz disso e do perfil de quem manda na empresa, nem 10% das ações previstas para o primeiro ano de funcionamente foi cumprido. 100 milhões oriundos do MinC e da Ancine não foram recebidos por absoluta incompetência e 18 milhões foram devolvidos ao s cofres públicos graças ao inferno burocrático da empresa (perdemos 118 milhões, destinados à produção audiovisual independente). Quem manda na empresa é, pela ordem, os globais ministro Franklin Martins e Tereza Cruvinel, que não só em declarações mas também em atos, deixam claro que não concordam com o projeto original. O Conselho Curador nunca funcionou como tal, até funcionou ao contrário, negando-se a fazer audiências públicas, a dialogar com a sociedade ‹ e agora está esvaziando com a renúncia de conselheiros (dos que  compareceram às duas ou três reuniões, alguns deles nunca deram as caras).

Como jóia da coroa de espinhos, a TV dita pública, a TV da sociedade, está vinculada à Secretaria de Comunicação Social, que cuida da relação do governo com a mídia e das verbas de publicidade, ou seja, uma vinculação que
jamais deveria existir, como não existe em nenhum paí s que tem TV pública, uma vinculação que por si só desqualifica a natureza e a missão de uma TV pública. A programação de uma TV pública não pode ser desenhada no gabinete de nenhum ministro, principalmente na mesa do ministro da Comunicação Social, onde várias reuniões com esse teor já foram realizadas, para desespero e com discordância de Leopoldo Nunes (com sua demissão, possivelmente o locus dessas decisões se fixará, sem oposição, no segundo andar do Palácio do Planalto).

A cristalina verdade é que não temos uma TV pública nos moldes pensados e projetados pelos milhares de trabalhadores audiovisuais e categorias afins que participaram de centenas de reuniões durante três anos, culminadas no Forum Nacional das TVs Públicas. Nos moldes democráticos (para dentro e para fora) e verdadeiramente republicanos (coisa pública, propriedade da sociedade) do projeto entregue pelo ministro Gilberto Gil ao presidente Lula e aprovado publicamente por ele. Todos sabem o momento em que aquele sonho começou a ir por água abaixo: no momento em que a implantação do projeto foi retirado do âmbito da cultura e mergulhado no âmbito da informação e propaganda do governo. Em bom cinemês, não deu para montar, a alma e o corpo não combinam, à intenção não corresponde uma ação para alcançá-la, o antagonista virou protagonista.

O outro lado dessa questão é a reação dos trabalhadores audiovisuais e da sociedade diante do projeto desvirtuado. A reação é insignificante frente à magnitude cultural e social do problema. Se queremos que se materialize o
sonho daquela TV pública da Carta de Brasília, a reação tem de ser musculosa e dirigida aos dois poderes que podem operar tal milagre: o presidente da República ou o Congresso. Existe outro, a mídia (o primeiro poder, com o
disse o papa João Paulo I), mas nossa grande mídia está se lixando para a TV pública e quanto mais ela morra no nascedouro, melhor ‹ embora possa insistir na relação expúria da TV Brasil com o Palácio do Planalto, mas só
para bater em Lula, não para dar força aos princípios da Carta de Brasília.

Se alguma coisa há que ser feita neste momento é isso e não suscitar ou alimentar fraturinhas ou torcicolos internos, como as acusações improváveis de que nossos companheiros ³que assumiram cargos executivos se isolaram no
poder², que não aproveitaram estrategicamente o apoio da classe. Leopoldo Nunes seguiu estritamente, durante seus mais de seis anos no governo, os difíceis caminhos determinados no projeto de políticas públicas audiovisuais
elaborado coletivamente e aprovado por todos nós, ou nossos representantes, no Seminário Nacional do Audiovisual, em dezembro de 2002. Refiro-me a Leopoldo Nunes (embora eu também tenha sido criticado por isso aqui na
lista, hoje e por primeira vez) e à sua missão de estar lá dentro, no fogo da batalha, cumprindo uma tarefa por delegação de seus companheiros (nós todos), tentando salvar alguma coisa daquele sonho que se arruinava sobre
sua cabeça. Refiro-me a suas seis internações hospitalares por estresse. Refiro-me à sua entrevista à Revista Forum, onde tem a coragem de perder o emprego (com filho recém nascido) na tentativa de chamar a nossa atenção,
mais uma vez, exatamente para o fato de que o buraco é mais em cima.

Essas percepções anuviadas de isolamento no poder me fazem lembrar um conto zen do sertão, porque sertão também é Ser Tao, como revelou Guimarães Rosa, e portanto tem historinhas zen. Duas tribos estão em luta e uma delas pede ao valoroso chefe que se infiltre no meio do inimigo e ganhe a batalha. O chefe se mete no cerne do exército inimigo e luta desesperadamente. Seus companheiros, como estão longe do epicentro da batalha, não vêm o que o
chefe está fazendo e suspeitam que ele se aliou ao inimigo, principalmente quando o inimigo vai embora, e o amaldiçoam. O chefe, que tinha sido sequestrado, consegue escapar e traz informações preciosas que levam sua
tribo à vitória.

A diferença é que, no caso da TV Brasil, não se trata de sequestro. É rapto.
Orlando Senna

A saída de Leopoldo Nunes da TV Brasil

Por Renato Rovai [Sexta-Feira, 24 de Abril de 2009 às 15:36hs]

Fórum – O senhor avalia que a TV Brasil tem desempenhado o papel para a qual ela foi criada?

Leopoldo Nunes – Acho que de alguma forma sim. O mais positivo de tudo é em relação à produção nacional de audiovisual. Porque a mídia comercial e a televisão aberta sempre estiveram alijadas de todo o processo de produção audiovisual brasileira. A TV aberta no Brasil se constitui como uma TV de qualidade basicamente nos anos 1960 com a TV Globo, que numa aliança com a ditadura militar e num acordo com o grupo Time Life cria uma grande empresa de comunicação. Foi ali que se criou uma referência, um padrão de televisão brasileira. Tudo o que se faz em televisão brasileira hoje é derivado ou imitação daquilo que foi a Rede Globo, principalmente no modelo de negócio. Por exemplo, o cinema brasileiro foi substituído pela teledramaturgia. A teledramaturgia é uma produção de baixíssima qualidade, mas de grande interesse popular. Vende xampu, exporta seus produtos para o mundo. As pessoas ouvem como se fosse rádio, ela vem da matriz cubana da radio novela. Mas mesmo assim é uma coisa de qualidade. No jornalismo é a mesma coisa. Tivemos experiências como o Última Hora, mas de qualquer forma a matriz é a mesma. É o padrão Rede Globo. Então, quando se cria a TV Brasil, vê-se a aspiração da criação de um modelo de negócio e de um modelo de produção de conteúdo para compor essa televisão. Por exemplo, em relação à programação infantil. Nós temos uma animação no Brasil de altíssima qualidade. Por exemplo, 20% do (filme) “Asterix” foi feito em Águas de Lindóia, o diretor de “A Era do Gelo” é brasileiro, exportamos mão-de-obra da mais alta qualidade para fazer isso. No entanto, a televisão brasileira nunca absorveu a animação brasileira. Quer outro exemplo? O Maurício de Souza tem uma das maiores famílias de personagens de animação do mundo. E comparado com a Walt Disney seus personagens são mais politicamente corretos. Os árabes usam, os chineses usam, enquanto não usam [os desenhos da] Disney. E aqui no Brasil ele é pouco usado. A verdade é que a TV brasileira está de costas para o Brasil. Bem, acontece que a Constituição brasileira prevê nos seus artigos 221, 222 e 223, o princípio da complementaridade entre o público, o privado e o estatal. O privado, quer nós gostemos ou não, é o modelo que deu certo; o estatal passou a existir com a Lei do Cabo em 1995, com as TVs Assembléias, das Câmaras Federal e Municipal e do Senado. Já o (modelo) público surge com a criação da EBC. A lei que cria a EBC cria o termo público, porque até então era educativo. Todas as TVs eram educativas. Dentre as educativas, nós temos 26 emissoras e 19 modelos jurídicos diferentes. Desses 19 modelos, temos um que é exemplar, que é o da Fundação Padre Anchieta de São Paulo. Sai governo, entra governo, a TV Cultura de São Paulo está aí. Ela tem um conceito forte, uma diretoria executiva, é ligada ao governo do Estado, tem uma produção de qualidade e exerce bem sua função. É a mais sólida de todas as emissoras que a gente e que inclusive ajudou e muito a criar a TV Brasil. Foi um dos berços que clamava por uma TV pública. Por isso, quando nasce a TV Brasil, ela vem com toda uma esperança de se colocar no ar uma nova programação. Por exemplo, as pessoas não conhecem a África? Então eu abri uma janela de produção africana chamada “DOC África”, que agora vai passar a se chamar “Mama África”. Toda semana passa um documentário africano. Na semana retrasada, por acaso, entre os 10 programas de maior audiência da casa havia um filme africano. O mesmo que acontece em relação à África, também se dá com a América Latina, ninguém conhece. Por exemplo, você sabia que existe uma cidade andina na Colômbia que respeita as leis incas e tem curso de Direito, uma universidade de 600 anos e que responde a leis incas? Pois então, criamos o Tal Como Somos que apresenta documentários latino-americanos. Além disso, temos uma série de programas com o Ministério da Cultura. É este o modelo sistêmico que nós criamos na Secretaria do Audiovisual voltado para a TV pública. Além disso, temos uma série de programas voltados para a cidadania, desde questões de idade, de gênero, de trânsito, de educação básica… Mas há outras coisas. Por exemplo, nós temos 180 línguas indígenas no Brasil. Nós temos uma diversidade lingüística maior do que a China, maior do que a Índia, e não reconhecemos. Nós somos brancos ocidentais. Índio, para a gente, é motivo para abate, porque ocupa uma área muito grande onde é possível produzir “x” sacas de arroz, como no caso da Raposa Serra do Sol. Hoje, a TV Brasil apresenta curtas-metragens indígenas. Por fim, sempre entendemos que o público brasileiro gostava de cinema brasileiro. E a TV Brasil está provando que gosta. Das 10 maiores audiências da TV, semanalmente medida, quatro são de cinema brasileiro. O povo ama cinema brasileiro.

Fórum – Você considera que a TV Brasil está fazendo um caminho de construir esse padrão público a partir dessas iniciativas? Ou eles ainda são incipientes e demandariam um investimento maior?

Nunes – Certamente já são caminhos irreversíveis. Nas audiências da semana retrasada, duas delas são de América Latina, uma de África, uma de DOC TV, quatro de cinema brasileiro. Isso está sendo medido através do Ibope e demonstra que estamos no caminho certo. Quero ver a TV pública brasileira deixar de exibir produção indígena sem revelar os povos indígenas. Quero ver a TV pública sobreviver sem exibir um documentário ou um filme de ficção africano por semana. Isso é irreversível. Outra coisa irreversível é a produção independente. Ela tem muito mais qualidade técnica, humana e tecnológica do que se pode vir a ter na estrutura da TV pública ou mesmo da TV comercial. Porque a TV é um conglomerado de “x” mil funcionários, equipamentos de 5ª, 6ª geração e tal. Eu contrato uma boa produção, exerço meu poder de programação e meu poder editorial e exijo qualidade e preço. No mundo todo é assim. As TVs a cabo no Brasil trabalham com 26 funcionários, incluindo estagiários.

Fórum – Existe uma disputa dentro da TV que a gente que está de fora não consegue entender direito? Aliás, isso até foi matéria na CartaCapital, os cineastas versus os jornalistas…

Nunes – Existem disputas e existem falsas disputas. Por exemplo, a disputa que foi colocada na CartaCapital, jornalistas versus cineastas, é uma falsa disputa. Agora, uma disputa real, que existe, é o fato de nós termos um projeto que foi gestado há muitas mãos durante décadas, que a gente acredita que são valores brasileiros da diversidade cultural – nós assinamos e lideramos a Convenção da Diversidade Cultural –, a riqueza e a qualidade da produção independente, da informação, isso tudo é o projeto original, porque esse projeto está escrito nos cadernos do Fórum da TV pública, e na Carta de Brasília. Esse documento é fundante da esperança, porque nós conseguimos fazer um pacto. Nós juntamos sindicatos de jornalistas e outros, o FNDC, as associações de produtores independentes, governo, órgãos de controle e fizemos um grande pacto. Ele foi traduzido em alguns documentos, o presidente Lula lançou esse programa. Mas existe conflito com outro programa que está sendo desenvolvido pelos remanescentes de outras emissoras de televisão que não tem qualquer compromisso com esse projeto a não ser dizer “eu ajudei na Constituição de 1988”. Ajudar, pode ter ajudado, mas nós também, não é verdade? Então, coisas que nós criamos que estão consagradas hoje como valor da TV Brasil foram sendo apropriadas e tocadas por pessoas sem o menor compromisso e sem a menor referência com esse movimento de criação da TV.

Fórum – Você poderia nomear as pessoas?

Nunes – Não, não dá. Acho que tem coisas como, por exemplo, o Conselho Curador. Qual é o papel do Conselho Curador?

Fórum – Esse Conselho Curador deveria ter sido eleito, você não acha?

Nunes – Eu acho. Sou um homem de governo e, acima de tudo, alguém que representa um setor, um campo da cultura. Tenho uma vida muito mais identificada a minha luta setorial no âmbito da cultura e do audiovisual do que a um projeto político partidário, apesar das relações políticas que tenho e que, aliás, tenho orgulho de tê-las. Mas preciso dizer que não estou na TV Pública para servir apenas um governo. Estou trabalhando para um projeto duradouro, para um projeto de Estado. Por isso, não tenho o direito de não ser franco com você a quem conheço de muito tempo e dessas tantas lutas pela democratização das comunicações, discordo inteiramente da forma como foi constituído esse conselho e da forma como ele vem se desmelinguindo. O Conselho hoje mal se reúne…

Fórum – Como assim?

Nunes – Vários conselheiros pediram demissão, vários são demissionários, o presidente (Luiz Gonzaga Belluzzo) não vai, até porque ele hoje é presidente do Palmeiras. Sinceramente esse conselho deveria convocar uma audiência pública, com as entidades interessadas e legítimas que compõem todo esse rol entre o conteúdo e a comunicação, para discutir o seu papel e os próprios rumos da TV. Hoje uns poucos tem decidido tudo e, infelizmente, mesmo eu que sou diretor muitas vezes não sou convidado a participar dessas decisões.

Fórum – Isso que você está dizendo é muito grave. Você está me falando que há uma relação autoritária na TV até nos espaços de diretoria?

 Nunes – Sim, de certa forma é isso que você entendeu. Não há relação horizontal na TV. Hoje a relação lá é completamente vertical. Quem manda na TV é o Conselho de Administração e o ministro Franklin Martins. Depois que o Orlando Senna, que é uma figura pública reconhecida, e o Mario Borgneth saíram quem assumiu a diretor-geral é uma pessoa completamente sem qualificações para o cargo. Renato, não tenho coragem de dizer outra coisa para você. O Paulo Rufino, responsável pela diretoria-geral, é alguém cujo trabalho, por exemplo, absolutamente desconheço. Não posso dizer o mesmo da diretora de Jornalismo, a Helena Chagas, com quem eu tenho uma excelente relação.

 Fórum – E a presidente, a Tereza Cruvinel?

Nunes – A Tereza Cruvinel não é uma pessoa aética, longe disso, mas como te disse que seria franco nesta entrevista preciso dizer que desconheço qualquer experiência dela em gestão pública. E acho que tem feito uma falta danada a ela. A EBC é uma empresa muito completa e acho que lhe falta experiência para tocá-la. Eu torço muito para que tudo dê certo, porque o ano que vem é um ano eleitoral, nós vamos seguir a partir de 1º de junho uma legislação específica, ou seja, nós temos três meses para fazer todas as coisas e, dentre as nossas atribuições, está a constituição de uma rede nacional.

Fórum – A crítica que você faz à Tereza é bastante específica. Você disse que o problema é que ela não tem experiência de gestão. Esse poderia ser um dos motivos que está levando ao atraso da constituição da Rede Pública?

Nunes – Sem dúvida nenhuma. Por exemplo, ela devolveu R$ 18 mi aos cofres públicos no ano passado. Fórum – Como assim… isso não foi divulgado? Nunes – Não. A sua categoria (jornalistas) é muito corporativa. Não foi divulgado. Mas 18 milhões viraram pó, superávit primário.

Fórum – Qual o orçamento da TV, o que isso representaria?

Nunes – Foi em torno de R$ 300 milhões em 2008.

Fórum – Mas, por exemplo, qual era o custo da produção de rede, no ano passado?

Nunes – Era de R$ 12 milhões. Com R$ 12 milhões, eu teria produzido em todas as regiões do Brasil programação infantil, programação científica, história dos rios brasileiros, estradas brasileiras, estradas de tropeiro, turismo, tudo. Poderia ter sido feito no ano passado e estaria estreando agora em março ou abril. Com R$ 6 mi que sobrariam poderia ter sido feito, por exemplo, reformulação dos programas da casa que são importantes, reconhecidos, de grande valor público cultural e informativo. Outra coisa grave, em termos de gestão: foi aprovado em agosto de 2007 o Plano de Cargos e Carreiras, porque nos temos três anos para promover concursos internos, aprovado pelo DEST, que é o departamento de estatais. Aí a presidente resolveu interferir na negociação, e para o azar dela e nosso, veio a crise internacional. A não ser que seja uma benevolência muito grande do presidente Lula, tudo indica que não teremos o concurso neste ano. Ou seja, perdemos outra oportunidade.

Fórum – Pelo tom da sua entrevista, você parece estar muito decepcionado, você pretende ficar na TV Brasil ou está de saída?

Nunes – Eu não só pretendo ficar, como sou uma referência no setor audiovisual, dos longas-metragistas, dos curtas-metragistas, dos animadores, dos documentaristas. É uma responsabilidade minha ficar e fazer o debate. E ajudar a construir a TV Pública que nós sonhamos, que nos lutamos para criar. O que acontece é que a gente vê o tempo passando e algumas pessoas se aproximando da TV sempre como salvadores da pátria, mas são pessoas que nunca participaram desse tipo de discussão. O trabalho que nós fizemos está todo aí feito, colocado, reconhecido. Agora, tem gente que porque trabalhou na televisão comercial fazendo programas como “Sex Shop” em Shoptime se acha no direito de dizer que sabe mais.

Fórum – Isso é uma metáfora ou você está dizendo algo que de fato existe?

Nunes – Não é metáfora não. Tem gente lá assim. Claro que não é uma pessoa que participou do debate da TV pública como você participou. Não é uma pessoa que tem alguma história pela democratização dos meios de comunicação como eu e você temos. E tampouco quer dizer que você seja o máximo ou que eu seja o máximo. Mas há pessoas que não têm a menor referência, aí eu vejo um risco enorme de a TV se perder.

 Fórum – O que estou entendendo é que há um grupo que não tem compromisso público e que está se tornando majoritário na TV Brasil, é isso?

Nunes – Talvez fosse melhor dizer que quando você entra em uma época de crise, aparecem dois tipos de pessoas: os oportunistas e os puxa-sacos. Isso é muito comum e está acontecendo agora na TV Brasil. E me preocupa muito, porque este movimento é histórico da sociedade brasileira, e eu não o vejo sendo conduzido com a responsabilidade que ele merece. E mais: vejo a preocupação de muita gente na Esplanada, nas bancadas parlamentares do setor progressista, nos movimentos sociais, nas áreas setoriais e organizadas em relação a isso. E por isso decidi que é hora de tornar esse debate público. E escolhi fazer isso para você porque sei dos seus compromissos. E sei que você não vai transformar isso num ataque ao projeto, mas num debate sobre ele. Tenho um nome, uma história e por isso me cabe colocar esse debate de forma legítima. E coloquei isso internamente antes de ter ligar dizendo que aceitaria te dar essa entrevista que na verdade você já havia me solicitado no final do ano passado.

Fórum – E como está sendo realizado esse debate internamente?

Nunes – A presidente não gostou. Ela sugeriu que eu peça uma licença, que eu me afaste um tempo. Ela me chamou e disse isso, o que te parece? A coisa está ficando grave. O projeto democrático de comunicação e de conteúdo está perdendo a luta interna. Uma luta, aliás, que não deveria existir. Por exemplo, no ano passado por decisões equivocadas da presidência rasgamos R$ 100 milhões em editais. Havia a possibilidade de se conseguir para a produção independente R$ 60 milhões de um programa chamado PEF (Programa Especial de Fomento) em parceira coma a Ancine (Agência Nacional de Cinema) e R$ 40 milhões que o Ministério da Cultura preparou para a TV pública, chamado “Mais Cultura”, que era destinado ao Audiovisual. Criaram tantas dificuldades que esse dinheiro não veio. Ou seja, rasgamos R$100 milhões. Isso poderia ter significado uma revolução na produção audiovisual brasileira. Literalmente uma revolução. Mas ao contrário, travou-se uma disputa de poder interno, onde rolou a cabeça do Orlando Senna e do Mário Borgneth.

Fórum – O Orlando saiu por causa dessa disputa?

Nunes – Sim.

Fórum – E na época você decidiu ficar…

Nunes – Para conduzir o projeto até o outro lado da margem.

Fórum – Pelo que estou entendendo a Tereza Cruvinel está pedindo que você saia…

Nunes – Ela quer hegemonia. Ela quer fazer a TV dela, não a pública. Infelizmente do jeito que está o projeto da TV pública não sai. O que vai ficar aí vai ser um pastiche. Agora, é preciso dizer também que hoje a TV pública tem uma equipe fabulosa. Eu, aliás, trabalhei como um louco para construir essa equipe. E tirando o jornalismo, tudo que está na TV foi essa equipe que fez. Agora, o presidente Lula não sabe disso. Na verdade, quem entendia e defendia no governo uma TV realmente pública era o Gilberto Gil. Porque quem fez o Fórum de TVs Públicas foi ele. Quem quis peitar a Ancinave (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual) foi o Gil. Quem quis peitar a Lei Geral de Comunicação de Massa foi Gil. Quem deveria tocar a TV Brasil era o Gil. Eu acho que se isso tivesse ocorrido ele teria ficado no governo. E hoje teríamos caminhado muito mais, teríamos um projeto a essa altura muito melhor, de altíssima qualidade.

Fórum – Você saiu da Ancine com mandato para ir pra TV pública, hoje você considera que errou?

Nunes – Abri mão de um mandato eleito pelo Senado em comissão e em plenário. Meu mandato iria até dezembro de 2010. Mas de forma nenhuma me arrependo de ter tomado essa decisão. Eu contribuí demais com a TV Pública e quero continuar contribuindo. Não vou tirar a licença sugerida, minha intenção é continuar na TV e com esse debate público redirecionar seus rumos. Agora, se a presidente quiser me demitir ela pode fazê-lo. Mas não deixarei de fazer o debate por conta disso. Já disseram antes, né? Mas não custa repetir. Sou o mesmo no planalto e na planície. Eu precisava tornar público esse debate. E espero que a presidente da TV tenha tranqüilidade para realizá-lo. Não podemos nos amesquinhar, o que estamos construindo é muito maior. É algo que não pode ficar restrito a fulanizações, a disputas de poder.

Fórum – Mas pelo jeito há uma grande diferença de projetos, é possível trabalhar juntos?

 Nunes – Sim, com republicanismo e legalidade. Em lei, há marco legal, que define competências. República é um pacto.

Fórum – Sinceramente, Leopoldo, qual o seu objetivo ao trazer esse debate a público neste momento?

Nunes – Nós estamos no mês quatro de 2009 e pela lei só temos até junho de 2010 para tocar as coisas. Depois termina o mandato do presidente Lula. E em TV é tudo demorado, não dá pra decidir hoje e fazer amanhã. O que eu quero com essa entrevista é chamar a atenção das pessoas que são co-responsáveis pela criação desse projeto, um projeto que não tem dono, um projeto público, para os riscos que ele está correndo. Nós temos algumas agendas importantes nesse ano, vai ter uma Conferência Nacional de Comunicação, nós temos conferência da CUT, uma série de preparatórias e acho que a TV pública deve ser o centro de tudo. Eu quero chamar a atenção do movimento social para lutar pela TV Pública, pelo projeto original dela.

Fórum – Ou seja, na tua opinião esse projeto de TV pública está sob alto risco?

Nunes – Acho que sim. Se um outro setor político vier a ganhar a próxima eleição ele fecha a TV pública com certa tranqüilidade. A atual direção não está conseguindo consolidá-la por uma certa incompetência na gestão. E não estou dizendo que é fácil. Não é. Mas poderíamos estar num outro patamar.

Fórum – Mas sinceramente, não me parece que basta apenas trocar a condução.

Nunes – Não, você tem razão. É preciso discutir e gerar um novo modelo de negócio. Esse modelo tem que distribuir recursos para a sociedade. E a sociedade precisa em contrapartida produzir com qualidade. Sem demanda interna, você não faz economia. E para que isso se implemente o Conselho é fundamental. Esse Conselho foi feita de uma forma muito esquisita. Por isso, está esvaziado e não tem poder. Por isso, acho que entidades como o Sindicato dos Jornalistas e o FNDC deveriam ir pra cima, exigindo uma audiência pública para que se institua o controle social devido na TV Pública. Esse projeto não é de um governo, não é de um grupo, esse projeto é da sociedade. Então ele tem que ser para todos.

Fórum – Vou insistir, esse não é uma entrevista de quem está se despedindo do projeto. Você não sai da TV pública?

Nunes – Não saio. Só se me saírem (risos). Sou legítimo, sou orgânico, sou de governo, sou da base que deu origem a criação dessa TV. Não quero dizer com isso que quem vem de uma empresa “x” ou “y” também não mereça respeito. Claro que merece. Mas precisa respeitar os outros também. A respeitar as outras experiências e histórias.

Fórum – O conflito é entre os oriundos da TV comercial e dos que tinham relação com o Ministério da Cultura?

Nunes – Não necessariamente. Eu e a Helena Chagas temos uma excelente relação. Ela foi gestora, ela tem experiência de gestão. E nós temos uma relação extremamente respeitosa.

Fórum – E essa relação não existe com a Cruvinel?

Nunes – Sinceramente, de certa forma não. A Tereza vem trazendo, por exemplo, consultores e colocando-os acima dos diretores. Está dando a esses consultores poderes maiores do que aos diretores da EBC. Isso se deve a um erro de origem na constituição da empresa. O Brasil tem 117 empresas na União e a TV Brasil é a única onde um presidente da empresa pode nomear diretor, ou seja, onde isso não é atribuição do presidente da República. Tenho receio de que depois do presidente Lula ter tomado a iniciativa de bancar a criação dessa televisão e passar a sua constituição por medida provisória por diferença de apenas três votos no Senado ela venha a se tornar um mico. Porque ela já poderia estar numa velocidade muito maior. Nós poderíamos hoje estar assistindo uma TV pública de alta qualidade. E ainda não estamos.

 Fórum – Por quê?

Nunes – Ineficiência de gestão.

Premiado nos EUA aluno brasileiro da Escola de Cuba

Havana, 21 abril (PrensaLatina)

 O cineasta brasileiro Fábio Meira recebeu o prêmio de Melhor Filme de uma Escola de Cinema no Festival de San Diego, California, onde competiu com o curta-metragem Atlântico, filmado em 2008 em Havana e em uma praia do ocidente de Cuba.
 
Recém saído da Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de los Baños (Eictv), Meira contou com uma equipe de alunos desse centro, como o guatemalteco Hugo Kopper na produção; a boliviana Daniela Cajías na fotografia e a brasileira Mariana Barioni  na direção de arte. Assina a edição o mexicano Aldo Álvarez e o som o cubano Rubén Valdés. O ator cubano Luis Alberto García encarnou o personagem protagônico.
 
Participante na oficina Cómo contar un cuento, ministrado por Gabriel García Márquez na Eictv, em dezembro do ano passado, Meira incorporou ao filme vários dos temas que vinha trabalhando em exercícios anteriores, como parte de sua formação na escola.
 
Atlântico também recebeu o prêmio Courtoujours no Festival Recontres Cinemas d´Amerique Latine, em Toulouse, França. O júri esteve integrado por estudantes de diversas universidades francesas.

FILME SOBRE CHICO NA SALA DE ARTE DA UFBA

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CONFERÊNCIAS DO AUDIOVISUAL

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Convidado Data Tema
Raul Machado 07/05 Processo criativo do diretor
Rodrigo Barreto 12/05 A autoria no videoclipe
Tadeu Jungle 26/05 Processo criativo do diretor
Ale Briganti 02/06 Janela de distruibuição: o papel da MTV X a cena independente
Rodrigo Giannetto 11/06 Processo criativo do diretor
Ricardo Spencer 16/06 Processo criativo do diretor
Arlindo Machado 07/07 A linguagem do videoclipe

Inscrições abertas

 

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Informações: clique aqui!

Nota de Esclarecimento

Democracia, sem “demagogias” – resposta do MinC ao texto publicado na Revista Época

 O Ministério da Cultura está fazendo um esforço concentrado para divulgar a consulta pública do projeto de renovação da Lei Rouanet. Mesmo assim, muitos brasileiros ainda não têm conhecimento do conteúdo da proposta, que mantém a renúncia fiscal e cria um conjunto de novos mecanismos de fomento à produção cultural.

O Ministério da Cultura considera que os veículos de comunicação têm cumprido um papel excepcional no debate público sobre a Nova Rouanet, esclarecendo pontos da discussão aos interessados e colocando em evidência as mais diversas opiniões.

Por isso, é preocupante, o texto “Governo quer revogar Lei Rouanet” [“A demagogia rouba a cena”], publicado este final de semana pela revista Época, que traz opiniões, sem embasamento em fatos e sem esclarecer todos os pontos em discussão e todas as opiniões colocadas. A Nova Rouanet não extingue a renúncia fiscal como mecanismo de fomento à cultura, ao contrário do que o texto dá a entender, sem provar. A renúncia é mantida e são criadas novas formas de financiamento da produção cultural.

A proposta do governo federal reduz os riscos de alguma possibilidade de dirigismo cultural por parte de qualquer governo futuro, pois aumenta a participação de artistas e produtores culturais no processo de decisão, inclusive do Fundo Nacional da Cultura. O projeto em consulta pública aumenta a participação das empresas privadas no financiamento à cultura brasileira, com um maior número de alíquotas de dedução do Imposto de Renda. Enfim, a Nova Rouanet permitirá um aumento do fomento à cultura, com mais mecanismos e mais oportunidade para todos. 

 Há duas semanas, a Fundação Roberto Marinho enviou carta ao Ministério da Cultura em que contesta o projeto de lei e faz sugestões. A equipe do MinC está analisando as propostas e considera a postura da Fundação uma contribuição essencial para o amplo debate democrático a que o governo federal se abriu, num diálogo inédito para a reforma do principal instrumento de fomento à cultura no país. No mesmo período, o jornal O Globo publicou dois editoriais, na mesma semana, contra a proposta. Um deles foi acompanhado de texto do presidente da Funarte, Sérgio Mamberti, defendendo a posição do governo federal. As reportagens do jornal, no entanto, mantiveram-se como um espaço plural, não de defesa da opinião institucional do jornal, mas de expressão de diferentes pontos de vista sobre a proposta – de governo, produtores culturais e diversos artistas.

 Já no texto apresentado pela revista Época este final de semana, não se sabe o que é informação, o que é opinião do jornalista e o que é posição institucional da revista. A hipereditorialização, que o grupo combateu ao adotar o modelo da alemã Focus para sua revista, está presente no texto. O autor defende, por exemplo, o uso de R$ 9 milhões de dinheiro público para o financiamento de um evento a preços proibitivos. “Foi o dinheiro da renúncia fiscal que permitiu trazer ao país superproduções como os espetáculos da companhia canadense Cirque du Soleil”. Essa defesa é uma opinião da revista? Do jornalista? Ou é uma conclusão a partir das fontes que entrevistou?

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 Abaixo, mais opiniões da revista, e a visão do Ministério da Cultura:

“O mecanismo da renúncia fiscal é bom porque faz da cultura um bom negócio. Graças a ele, as empresas podem fazer propaganda de suas marcas usando recursos que seriam destinados à Receita Federal”.

Visão do MinC: Subsidiar a “propaganda de marcas” de empresas via renúncia fiscal não é função de uma política pública. A parceria entre empresa privada e governo, por meio da renúncia fiscal, se justifica quando há benefício para a área cultural e a marca se valoriza pelo serviço prestado. Mesmo assim, quando há uma contrapartida privada. Nos 18 anos de Rouanet, de cada R$ 10, apenas R$ 1 foi contrapartida privada.

“Sua aprovação [da reforma da lei] pode significar um retrocesso no financiamento à cultura – e alterar perigosamente as regras de um jogo que tem funcionado”.

Visão do MinC: O jogo tem funcionado, mas não para todos os atoresem cena. Mais da metade dos projetos aprovados pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) não consegue captar recursos, o que mostra de forma explícita que o mecanismo não dá conta da diversidade de demandas da cultura brasileira.

 “Seria mais produtivo tentar elaborar com o setor privado uma proposta que corrija eventuais falhas da Lei Rouanet que adotar uma postura que mistura a pura demagogia com mais uma tentativa de dirigir a cultura e restringir a liberdade de criação”.

Visão do MinC: O Ministério da Cultura está em diálogo com o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), que representa o setor privado. No momento, esperamos proposta, já prometida, de modificação do texto. Por fim, a restrição da liberdade de criação se dá por um sistema incapaz de atender a todas as demandas colocadas, a partir de critérios exclusivos dos departamentos de marketing das empresas.

“A distribuição dos recursos captados segue o mapa da arrecadação de impostos no país e não difere de quanto o próprio governo investe na cultura de cada região por meio do Fundo Nacional de Cultura, cujos recursos ele [o MinC] controla integralmente. É natural que grandes centros produzam e consumam mais cultura”.

Visão do MinC: Obviamente, o mapa da distribuição de recursos captados via renúncia fiscal seguirá o mapa da arrecadação de impostos das empresas. No entanto, uma política pública de fomento à cultura não pode seguir esse mapa. Todos os cidadãos brasileiros têm iguais direitos de acesso e de garantias de produção cultural. Não se defende, em nenhum momento, um igualitarismo burro. As diferenças de densidade demográfica e desenvolvimento cultural devem ser levadas em conta. Sobre a comparação com o FNC, ele mantém, sim, algum nível de concentração regional. No entanto, o próprio mapa que a revista exibe em infográfico mostra que é uma distribuição regional mais próxima do Sistema Único de Saúde (SUS) do que da concentração de renda. Não há nada que possa justificar que a principal política pública de fomento do governo à cultura – que responde por 80% do financiamento federal – tenha uma distribuição pior do que a da renda no Brasil.

“O governo parece desconhecer essa realidade e abriga facções que não escondem o desprezo por grandes empreendimentos e grupos empresariais”.

Visão do MinC: Não há setores dentro do governo, ou especificamente dentro do Ministério da Cultura, contrários ao financiamento privado das atividades culturais brasileiras. O objetivo da Nova Rouanet é justamente fortalecer a parceria público privada e aumentar o aporte das empresas. Justo por considerá-lo extremamente benéfico, o governo prevê, na Nova Rouanet, uma maior participação de investimento privado, com cotas de renúncia abaixo dos 100%. E também com novos mecanismos como a Parceria Público- Privada e o Vale Cultura, que dependem do empenho privado. Além do mais, o teto de renúncia da Rouanet quadruplicou durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que comprova, em números, que não há nenhuma pré-disposição contrária às empresas nem ao mecanismo da renúncia.

 Assessoria de Comunicação do Ministério da Cultura