CANTORIA DE SÃO GABRIEL COMEÇA HOJE

Matingueiros faz das suas no sertão

Balé Matingueiros no Carnaval de SalvadorOs Matingueiros planejam comemorar os dez anos de carreira com shows, disco e um longa-metragem

José Teles (Jornal do Commércio, 22/03/2009)

O circuito Campo Grande, principal vitrine do Carnaval de Salvador este ano, teve também frevo e maracatu, num trio elétrico sem cordão de isolamento. E o responsável por este feito foi um grupo pernambucano que não atua distante da cena musical da Região Metropolitana, Os Matingueiros. Nascido em Petrolina há uma década, está acostumado a quebrar regras. Foi o primeiro a levar a música pernambucana até a China, em 2002, onde fizeram 40 apresentações. De lá trouxeram, além da experiência, alguns instrumentos que incorporaram aos que já tocavam, o ou luo zlê (cujo som se assemelha ao da rabeca), o are hoo (mais ou menos um violino chinês), e o cheng (um ancestral da sanfona, tocado com a boca).

Os Matingueiros planejam comemorar os dez anos de carreira com shows, disco e um longa-metragem. Quem conta os planos do grupo é seu fundador o recifense Wagner Miranda, um ex-professor de literatura e redação, que trocou as praias do litoral pelo Rio São Francisco em 1999: “Quando cheguei a Petrolina, a cidade culturalmente estava muito parada. Então a gente começou a reunir artistas que trabalhavam com linguagens diferentes e fundamos Os Matingueiros, que une música, à dança e artes visuais. A influência maior veio do manguebeat, já que Wagner vivia na capital quando Chico Science e sua turma engrenaram o movimento de renascença da cultura pernambucana. O Maracatu Nação Pernambuco também serviu de linha-mestra para o trabalho do grupo: “Foi com o pessoal do Nação Pernambuco que conseguimos realizar a turnê para a China. O nosso trabalho tem a ver com o que eles fazem, porque não somos apenas uma banda, temos cenários, coreografias, somos também o Maracatu Nação Matingueiros, que este ano tocou pela primeira vez no carnaval do Recife e em Olinda Hoje vamos além do grupo, nos tornamos um Ponto de Cultura, o maracatu é o nosso lado social.”,

Wagner concedeu a entrevista, durante o 1º Festival Internacional da Sanfona, no Grande Hotel de Juazeiro, na Bahia, cidade com a qual ele tem tanta afinidade quanto com a vizinha Petrolina, que fica na outra margem do rio: “Na verdade eu considero o Matingueiros não um grupo de Petrolina, mas da região. Infelizmente, ou felizmente, quem segura mais a nossa onda é a Bahia. Tocamos no Carnaval de Salvador com apoio da TV-E e do governo baiano. E foi o que impressionou o pessoal que brincava o Carnaval em Salvador. A princípio eles olhavam meio assustados porque a música não era a que estavam acostumados a dançar, e depois porque o trio era livre, sem cordões de isolamentos. Mas a situação da cultura em Pernambuco está mudando. Com esta interiorização que está sendo promovida pela Fundarpe, as coisas passaram a acontecer mais fora da capital”.

O Matingueiros é composto por 20 integrantes, entre músicos, bailarinos, cenógrafos (estes comando pela mulher de Wagner, a designer Gicla Wazda). Mantém uma sede na parte antiga de Petrolina (cedida em comodato pela prefeitura, tendo como contrapartida o trabalho social que fazem) e é um exemplo para outros grupos que atuam muito longe das capitais. Mas não foi fácil se manter atuante todo este tempo: “Até aqui foi muita peleja, raça, eu, minha mulher, os integrantes. Mas está valendo a pena, porque fazemos o que gostamos e contribuímos para mudar uma realidade cultural. Até o surgimento do Matingueiros não se falava neste tipo de música que fazemos, coco, maracatu. Hoje, em Petrolina, já existem outros grupos que surgiram depois da gente, e procuramos diversificar sempre o nosso trabalho. Temos espetáculos específicos para o Carnaval e para o São João, mas uma coisa não exclui a outra. No que já estamos ensaiando para o São João tem também coisas do Carnaval.

O grupo está atualmente divulgando o disco que lançou no ano passado, Pluri (independente, distribuído pela Trattore). Um CD que conta com mais convidados especiais do que a quantidade de músicos da banda Matingueiros. Entre outros deram uma canja aos petrolinenses: Geraldo Azevedo, Naná Vasconcelos, Toinho Alves, Sérgio Campelo, Siba, Genaro, Dominguinhos, Genival Lacerda, Fred Andrade, maestro Forró (que viajou com o grupo na excursão à China) e Jessier Quirino: “Fizemos o disco com o patrocínio da Chesf e aproveitamos o tempo de estúdio para gravar músicas para mais de um disco”, conta Wagner Miranda. Este segundo disco deve ser lançado em maio, coincidindo com os dez anos de fundação do grupo. Além do disco tem o longa-metragem Na quadrada das águas perdidas, mesmo nome de um álbum de Elomar Figueira: “Não é baseado no disco de Elomar, mas é inspirado no universo da obra dele dele. Tem muito dos elementos que se encontram na música e na poesia de Elomar, bodes, onças, cobras, e a caatinga como cenário”, continua Wagner, que pode estar criando um novo rótulo para o cinema brasileiro, o caatinga movie, que está sendo rodado com recursos próprios: “Só a infraestrutura foi uma enorme colaboração que recebremos do Exército Brasileiro”.

O filme, que deve ser lançado no próximo ano, tem apenas um personagem humano, o ator Mateus Nachtergaele, no mais, só animais e a paisagem inóspita do Sertão baiano: “E Mateus não diz uma única palavra durante o filme, que é a história de um cara que caminha pela caatinga levando numa carroça dois bodes para vender. No caminho, enfrenta cobras, onças, e por aí vai”, diz Wagner, também diretor do filme, cuja trilha sonora tem a música do Matingueiros, de Geraldo Azevedo e Elomar. Hoje a Tabuleiro Produções, da Bahia, assume essa produção “Precisamos disso, de uma produção que nos dê suporte, porque fazemos tudo, do figurino à contratação de shows”. Talvez agora eles possam voltar ao circuito internacional: “Depois da China recebemos convites do Kwait, mas aí veio Bush e começou aquela guerra no Oriente Médio e os shows foram cancelados. Recebemos também convite para shows na Grécia, quem iria ceder as passagens era o governo brasileiro, mas demoraram muito, e a turnê não rolou”.

Trio une o interior na capital da folia

O Sertão do São Francisco e o Recôncavo Baiano se encontraram com a folia soteropolitana no Campo Grande, nesta segunda-feira. O trio “No Interior da Folia” passou pelo circuito Osmar, animado pelos grupo Matingueiros, de Juazeiro, e Gêge Nagô, de Cachoeira, além dos cantores Guda Monteiro e Ulisses Castros, ambos de Santo Amaro da Purificação. A banda Matigueiros, que tem em seu currículo a pré-indicação do Grammy Latino 2007, na categoria música regional, apresentou o melhor da música do São Francisco. Entre cocos, cirandas, xaxados e forró, o grupo cantou o ijexá Guia dos Ventos, em referência aos Afoxés, homenageados do Carnaval 2009. O casal Olímpia Filha e Robson de Oliveira vem, há 11 anos, de Itapetinga para Salvador curtir o Carnaval. Eles adoraram encontrar com a cultura do inteiror no meio da folia momesca. “Maravilhoso. Isso é que é dar espaço à diversidade da Bahia”, diz Olímpia. O casal já conhecia o som da banda Matingueiros, que se apresenta sempre em Petrolina, e aproveitaram para dar outras dicas de atrações para o Carnaval. “Da nossa terra, Itapetinga, temos o forró do deputado federal, Mão-Branca, maior representante da nossa música”, sugere Robson, pegando sua esposa para dançarem, agarradinhos, mais um baião da Matingueiros. Diversidade – Outra dupla animada é formada pelas foliãs Maria Augusta, 56 anos, e Jane Maria dos Santo, 70 anos. Carnavalescas desde o tempo do pierrot e “de quando as crianças ainda tinham medo de careta”, elas se divertem na passagem dos grupos do inteiror, enquanto aguardam a passagem do bloco É com esse que eu vou. “Ótima iniciativa de mostrar a riqueza da Bahia. Carnaval tem que ter tudo”, anima-se Maria Augusta, sem parar de dançar. E completa: “O que tocar eu danço”. O cantor Ulisses Castro mostra-se feliz com a possibilidade de tocar a música do Recôncavo no Carnaval. “A Bahia é um caldeirão de ritmos. Preparamos sambas e chulas de Santo Amaro para homenagearmos nossa grande representante, a sambista Edith do Prato que nos deixou este ano”, explica o santo-amarense. Outro filho da cidade, Guda Monteiro mora na Itália há 15 anos, onde vem divulgando a música brasileira, em especial a baiana. “Os italianos, como todos os europeus adoram nossa música. Há uma grande receptividade para o nosso trabalho na Europa”. No trio, Guda apresentou suas versões em samba-reggae de músicas dos Novos Baianos e Tim Maia, suas grandes referências musicais. Afro-religioso – O vocalista Márcio Duarte, da banda Gêge Nagô, de Cachoeira, define o grupo como ‘um coral afro-religioso’. “Nos inspiramos nas canções dos Tincoãs e em cantos de candomblé e samba de roda”. Mateus Aleluia, último remanescente dos Tincoãs é um dos integrantes do Gêge Nagô, que interpreta também canções autorais. Para o Carnaval, o grupo trouxe muitos afoxés, em homenagem aos Filhos de Gandhy. “O Recôncavo é tão perto de Salvador, mesmo assim é pouco valorizado. Essa é uma oportundiade inédita”. Sozinha, em plena Avenida, a comerciante, Angela Dantas, 55 anos, se diverte com o que ela chama de ‘atração mais cultural’. “O Carnaval precisa mais disso, de conteúdo, de história, como esses artistas que com suas danças e roupas, revelam a cultura da Bahia”, pontua a foliã.
Texto: André Santana Fonte: O Sertão do São Francisco e o Recôncavo Baiano se encontraram com a folia soteropolitana no Campo Grande, nesta segunda-feira. O trio “No Interior da Folia” passou pelo circuito Osmar, animado pelos grupo Matingueiros, de Juazeiro, e Gêge Nagô, de Cachoeira, além dos cantores Guda Monteiro e Ulisses Castros, ambos de Santo Amaro da Purificação. A banda Matigueiros, que tem em seu currículo a pré-indicação do Grammy Latino 2007, na categoria música regional, apresentou o melhor da música do São Francisco. Entre cocos, cirandas, xaxados e forró, o grupo cantou o ijexá Guia dos Ventos, em referência aos Afoxés, homenageados do Carnaval 2009. O casal Olímpia Filha e Robson de Oliveira vem, há 11 anos, de Itapetinga para Salvador curtir o Carnaval. Eles adoraram encontrar com a cultura do inteiror no meio da folia momesca. “Maravilhoso. Isso é que é dar espaço à diversidade da Bahia”, diz Olímpia. O casal já conhecia o som da banda Matingueiros, que se apresenta sempre em Petrolina, e aproveitaram para dar outras dicas de atrações para o Carnaval. “Da nossa terra, Itapetinga, temos o forró do deputado federal, Mão-Branca, maior representante da nossa música”, sugere Robson, pegando sua esposa para dançarem, agarradinhos, mais um baião da Matingueiros. Diversidade – Outra dupla animada é formada pelas foliãs Maria Augusta, 56 anos, e Jane Maria dos Santo, 70 anos. Carnavalescas desde o tempo do pierrot e “de quando as crianças ainda tinham medo de careta”, elas se divertem na passagem dos grupos do inteiror, enquanto aguardam a passagem do bloco É com esse que eu vou. “Ótima iniciativa de mostrar a riqueza da Bahia. Carnaval tem que ter tudo”, anima-se Maria Augusta, sem parar de dançar. E completa: “O que tocar eu danço”. O cantor Ulisses Castro mostra-se feliz com a possibilidade de tocar a música do Recôncavo no Carnaval. “A Bahia é um caldeirão de ritmos. Preparamos sambas e chulas de Santo Amaro para homenagearmos nossa grande representante, a sambista Edith do Prato que nos deixou este ano”, explica o santo-amarense. Outro filho da cidade, Guda Monteiro mora na Itália há 15 anos, onde vem divulgando a música brasileira, em especial a baiana. “Os italianos, como todos os europeus adoram nossa música. Há uma grande receptividade para o nosso trabalho na Europa”. No trio, Guda apresentou suas versões em samba-reggae de músicas dos Novos Baianos e Tim Maia, suas grandes referências musicais. Afro-religioso – O vocalista Márcio Duarte, da banda Gêge Nagô, de Cachoeira, define o grupo como ‘um coral afro-religioso’. “Nos inspiramos nas canções dos Tincoãs e em cantos de candomblé e samba de roda”. Mateus Aleluia, último remanescente dos Tincoãs é um dos integrantes do Gêge Nagô, que interpreta também canções autorais. Para o Carnaval, o grupo trouxe muitos afoxés, em homenagem aos Filhos de Gandhy. “O Recôncavo é tão perto de Salvador, mesmo assim é pouco valorizado. Essa é uma oportundiade inédita”. Sozinha, em plena Avenida, a comerciante, Angela Dantas, 55 anos, se diverte com o que ela chama de ‘atração mais cultural’. “O Carnaval precisa mais disso, de conteúdo, de história, como esses artistas que com suas danças e roupas, revelam a cultura da Bahia”, pontua a foliã.
Texto: André Santana
Fonte: http://www.carnaval.ba.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1003&Itemid=72